quinta-feira, 23 de abril de 2009

*Doce vida de (des)ilusões! (Um episódio)


Pra começar, como definir a saudade? Eu acho que ela é prima do amor, da amizade, do carinho, do encantamento. E é irmã da memória. Nem toda lembrança traz saudade, mas toda saudade vem abraçada com uma lembrança. Pode ser a lembrança de um quem, de um quê, de um quando, de um onde, de um como, de um porquê... mas é sempre uma recordação de algo que foi bom, que nos cativou e nos fez feliz.

Caminham duas adolescentes numa noite fria. Elas iam descalças. Vinham duma grande festa. A rua estava vazia. Tão vazia que não havia uma pessoa, um carro, um animal, uma folha de uma árvore a mexer naquelas ruas que elas percorriam.
Sabiam as duas onde iam, mas no fundo não sabiam muito bem. A esperança pairava no coração de cada uma. Eram muitos dias, muitas horas, muitos minutos na viagem à roda daqueles nomes.

"Onde estamos a ir?"
"Para quele jardim. Eles estão lá à nossa espera"
"Não sei se estarão."
"Vais ver que sim, se eles disseram que vinham é porque veem"
"Ai, isto vai correr mal!"
"Não vai nada. Queres um cigarro?"
"Quero lá agora..." (pausa) "Quer dizer, dá cá. Estou uma pilha de nervos."

A miuda inala o fumo do cigarro e quase um segundo depois deita-o fora.

"O que? Mas tu até sabes fumar..."

Ela ri-se. Elas riem-se juntas.

"Chegamos. Aiii. Descemos?"

Ela para e respira fundo. "Sim"

Além estavam os rapazes, lindos como sempre. Aqueles sorrisos caracteristicos e os olhares iguaizinhos aos dos sonhos delas. Mais uma vez elas e eles além estavam, frente a frente. Um arrepio subia a espinha de cada um presente naquele jardim deseto em que só as arvores eram testemunhas deste quadrado perfeito.

"Toma! É para ti"
"Para mim? Ai nao acredito."
"Também tenho uma."
"Obrigada" Dizem quase em coro.

E cada casal se senta no seu banco. Longe mas perto um o outro a saborear os mistérios da noite até ao amanhecer, como em tantas noites aconteceu.

O amanhecer vinha sempre apesar dos desejos eram que nunca chegasse... Amanhecer esse que faz o sonho se desfazer, eles e elas partiem e tudo voltar à realidade. E a saudade ficava. Sempre.

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